quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Em defesa de Ricardo Teixeira

Ok, pararam de cuspir e joga pedras? Então posso começar.
Antes de chegar aos argumentos de defesa é preciso esclarecer dois pontos. O primeiro é que não sou advogado, não tenho procuração, não conheço o réu pessoalmente, nunca trabalhei ou tive qualquer envolvimento com futebol que não fosse como torcedor e peladeiro de final de semana, nesse mesmo ponto, insisto e esclareço que não recebi nenhuma forma de remuneração ou solicitação por parte do acusado, escrevo essas linhas, portanto, movido apenas por um dever de consciência, que surgiu após observar um linchamento público.
Eis que vem o segundo ponto a ser esclarecido antes de iniciar minha quixotesca tentativa de defesa, mesmo com o linchamento público nos jornais e tevês eu ainda não consegui entender exatamente do que acusam o réu e isso torna tudo isso um tanto quanto paradoxal, afinal, se não sei do que o acusam, como saberei como defendê-lo? Para tanto, me municiei daquilo que li e vi na imprensa, das postagens indignadas nas redes sociais, conversas com amigos nas mesas de bar e dessa coleta pude elaborar o que segue na sequencia dessas linhas.

Organização
O primeiro ponto a ser tratado é a grita sobre o “futebol brasileiro ser uma bagunça”. Escolhi esse tópico em primeiro lugar por ser onde enxergo mais injustiça contra o réu.  No que tange aos campeonatos organizados pela CBF, mais especificamente o Campeonato Brasileiro (de todas as divisões A, B, C e D) e a Copa do Brasil, Ricardo Teixeira deveria ganhar uma estátua em cada capital do País.  Ao assumir a CBF em 89 o campeonato brasileiro passou a ter 22 clubes e com o descenso de 4 e acesso de 2, manteria o número de 20 clubes daí em diante. Durou pouco, até 93, e em 94 voltou a ter 24 clubes número que ficou mais ou menos estável até 2006 onde ficou em 20 novamente. Mas todo esse vai e vem de número de participantes durante a administração Teixeira na CBF é troco se comparado ao passado onde não era incomum campeonato com 64 participantes em um ano, 48 em outro e assim por diante.
Mais do que tudo isso, a partir de 2003 o campeonato brasileiro uniformizou a fórmula de disputa para pontos corridos com um calendário bem definido. E a Copa do Brasil, como torneio mata-mata, Copa essa que foi criação direta de Ricardo Teixeira, iniciando a disputa em 1989 (ano que Teixeira assumiu) contra tudo e contra todos, hoje a Copa é um sucesso, mas na época houve ceticismo geral como “torneio caça níquel”, “inchaço de calendário” etc.
Portanto foi Ricardo Teixeira que organizou os campeonatos no Brasil, os deixando no formato do resto do mundo, com a Copa sendo o torneio mata-mata e o Campeonato sendo de pontos corridos com 20 times mais fortes.
Não só isso, hoje tem a série B também com 20 clubes e pontos corridos e desde 2009 uma bem organizada série C e D.
A consequência dessa melhor organização promovida por Teixeira gerou um efeito quase imediato nos clubes. O leitor mais cético dirá que é mera coincidência, creditará a globalização da economia, ao cometa Halley, mas o fato é que a partir daí os clubes brasileiros passaram a dominar a América com uma supremacia total na Libertadores. Foram 10 títulos e 9 vices em 22 anos (89-11). Nos 30 anos anteriores tinham sido 5 títulos e 6 vices. Os números falam por si. Os campeonatos mais organizados e com fórmulas mais justas passaram a enviar os melhores times para a disputa, simples assim.

Seleção
A história da seleção durante a administração de Teixeira será lembrada como anos gloriosos quando essa nuvem de acusações se dissipar. Acho pouco honesto creditar a ele a Copa de 90, a marca de Teixeira começa a ser posta, de fato, depois daquela Copa, com a entrada de Falcão, que ousou não chamar os medalhões que atuavam na Europa e fez um verdadeiro garimpo entre os atletas que atuavam aqui. Apesar do trabalho de Falcão não ter conquistado títulos ele foi fundamental para o técnico que viria depois, Parreira, e iniciou uma das eras mais vitoriosas na história do futebol, simbolizada pelo lateral Cafu que primeiramente foi para a seleção com Falcão até o penta em 2002. A seleção que ficara 24 anos sem vencer uma Copa ou sequer chegar a uma final, foi por 3 Copas consecutivas finalista, ganhando duas e uma fatalidade com Ronaldo na final impediu o tri consecutivo. Claro, dirão os críticos, que os títulos foram ganhos pelos excelentes jogadores que o Brasil produz, mas onde estavam esses jogadores nos 24 anos anteriores?
Coloque nesses anos gloriosos mais 3 títulos da Copa das Confederações e 4 Copas Américas (contra outras 4 nos 73 anos anteriores)
Nas categorias de base outro massacre da gestão Teixeira: Na Sub-17 são 3 títulos e 2 vices, e na Sub-20 são 3 títulos e 3 vices. (Em ambas as categorias um domínio completo na America do Sul).
Some a tudo isso o mérito de ter , enfim, formado uma seleção feminina competitiva e ... voilá mais um argumento dos críticos vai por água abaixo.

Política
Aqui é onde as acusações ficam confusas e organiza-las não é tarefa fácil, mas vamos lá. Para respondê-las tenho que deixar claro que a CBF é uma entidade privada! Sim amigos socialistas, comunistas ou qualquer outro tipo de ignorante que não compreenda o termo, mas a CBF tem DONO e os donos são as Federações locais que por sua vez tem como donos os clubes que por sua vez tem como donos os sócios dos clubes.
Portanto é fácil desmistificar a primeira choradeira que é quando falam sobre tempo demais no poder, assim como você não vê empresas trocando de presidente de 4 em 4 anos a CBF também não deveria trocar. Empresas privadas (e a CBF é uma) devem ter constância e visão de longo prazo em sua gestão, a escolha do executivo que vai comanda-las deve levar em conta isso e Teixeira é isso, o executivo escolhido pelos donos da CBF para comanda-la.
Não há razão alguma para substituí-lo se os donos estão contentes.
Vi os argumentos mais cretinos possíveis nesse ponto, como alguns querendo eleição aberta ao público, nomeação pelo presidente da república e outras sandices do gênero.
Goste ou não, caro leitor, a seleção brasileira, sim aquele símbolo, aquela camisa que te emocionou tantas vezes, aquela que você ostenta com orgulho quando vai ao exterior, que é reconhecida em qualquer canto e serve até de salvaguarda para jornalistas que cobrem guerras, tem DONO e esses donos escolhem, ao seu bel prazer, quem vai ser o gestor. Fica ridículo, portanto, qualquer acusação de gestão fraudulenta, uma vez que os donos recolocam tal gestor no comando quando o mandato termina.
Mas não pense que por isso todo e qualquer ato desse gestor é bom. Não, nós podemos ter nossa opinião sobre tal gestão e ai sim Ricardo Teixeira se mostra um grande presidente.
Sob seu comando a CBF conseguiu um dos maiores contratos da história da entidade com a Nike, e hoje conta com empresas de ponta entre seus patrocinadores, banco Itaú, Vivo, Guaraná Antártica, TAM, Volkswagen, Extra, Seara e Nestlé. Acho que falam por si.
Não só o fato de ser exímio administrador da CBF, Ricardo Teixeira conseguiu algo que o eleva a categoria de gênio, ele foi capaz de, com seu empenho pessoal, trazer a Copa do Mundo para o Brasil. Se o país não tem infraestrutura, estádios, hotéis ou condições, isso não denigre o trabalho de Teixeira, ao contrário o eleva. Ricardo Teixeira é presidente da CBF, não da República, o que era da sua alçada ele fez magistralmente.

Antes de encerrar faço outra ressalva que não é menos importante. Teixeira teve a hombridade de fazer justiça ao glorioso passado do futebol brasileiro, assumindo com coragem o reconhecimento dos títulos dos clubes no passado, os uniformizando com status de campeões brasileiros.

Dizia um sábio que você pode saber muito sobre uma pessoa observando os inimigos que ela tem e a julgar por Ricardo Teixeira, os inimigos que ele possui só o qualificam mais. A começar por uma banda podre da imprensa, de gente mesquinha e rancorosa que só dá traço na audiência até os grandes interesses de emissora que perde a concorrência de transmissão de um campeonato. Não caia na propaganda ridícula desses detentores do poder. Pergunte sempre, caro leitor, qual o interesse de quem acusa.

Enzo Zaghoni (é um pseudônimo, o autor pediu para não ser reconhecido e qualquer contato com ele pode ser feito através desse blog)