sexta-feira, 25 de julho de 2014

Acabaram os regionais? Viva os regionais!



Nessa nuvem que se segue pós-copa do mundo e a constatação que temos uma geração de jogadores das mais fracas que já houve, me atrevo a desafiar uma opinião que se tornou unânime ao longo do tempo e que hoje ninguém mais se atreve a contestar.

Vimos, nos últimos 20/25 anos, os campeonatos regionais minguarem e perderem cada vez mais espaço cedendo lugar ao campeonato brasileiro. A princípio parecia muito lógico, uma vez que todos os países do mundo contavam com campeonatos nacionais durante o ano todo enquanto no Brasil o calendário era dividido em 6 meses para os regionais e outra metade para o nacional. Isso depois de 1970, por que antes disso não havia sequer um campeonato brasileiro, sendo que os enfrentamentos se davam no máximo em torneios como Rio-São Paulo, Taça Brasil e outras disputas curtas que dificilmente configuravam um campeonato nacional. O campeonato brasileiro, de fato, só começou a existir em 1971 e apenas no ano de 2003 ganhou padronização no formato de pontos corridos e calendário extenso.

Desde então os campeonatos regionais foram totalmente achatados a 2 ou 3 meses no máximo, perderam completamente a relevância e os clubes grandes os utilizam como treino, pré-temporada no máximo.

Fui testemunha dessa transformação que se iniciou no começo dos anos 90 e culminou em 2003 com o atual formato do calendário brasileiro. Ainda peguei jogos de turno do campeonato paulista que o público facilmente batia 90 mil pessoas e por um bom tempo fui entusiasta do fim dos regionais e consolidação do campeonato nacional até perceber o mal que isso causou ao futebol de forma geral.

Para ilustrar ao leitor eu recorro a uma imagem que sempre me despertou a curiosidade no campo da geopolítica e acabou por fazer todo sentido também para o futebol. Todos já devem ter visto um mapa do Brasil onde no lugar de cada estado é colocado um país. Por exemplo, a Itália no lugar de São Paulo, a Bélgica no lugar de Sergipe, a França no lugar de mato Grosso e assim por diante. Geralmente esses mapas versam sobre PIB, população ou área mas, se transportarmos isso para o futebol, chegaremos a conclusão que a seleção brasileira sempre foi a seleção continental, a seleção do “império brasileiro”.

Imagine você, se a Europa (com dimensões geográficas semelhantes ao Brasil) formasse uma seleção com os melhores da Alemanha, Itália, França, Espanha, Holanda etc. Eles jamais perderiam uma copa do mundo, penso que jamais perderiam um jogo sequer. A seleção brasileira sempre foi isso, os melhores da América lusófona.

Guardadas as devidas proporções, os estados brasileiros são nações, claro que menores e com ligas de futebol menores que as dos países europeus que citei. O campeonato belga pode ser mais forte que o campeonato baiano, o campeonato italiano talvez seja mais forte que o campeonato paulista e o campeonato espanhol mais forte que o campeonato mineiro, assim como a liga inglesa mais forte que o campeonato carioca. Mas, em conjunto, os campeonatos regionais proporcionavam um fabuloso leque de escolhas para a fortíssima seleção brasileira.

O leitor que é meu contemporâneo e os mais antigos vão se lembrar do malfadado bairrismo na hora de convocar as seleções de outros tempos. Era treinador carioca que não escalava paulista, era paulista que não escalava mineiro e isso desapareceu; ninguém mais fala disso.

É engraçado que antes do sumiço dos regionais os clubes brasileiros não ganhavam a Libertadores da América, claro!, eles nunca se importaram com isso; o campeonato brasileiro era, em si, a Libertadores lusófona, era o torneio continental, enquanto os regionais eram os torneios nacionais. As ligas europeias nunca têm mais que 2 ou 3 times detendo a supremacia de conquistas; assim sempre foram nossos regionais. Os clubes menores desapareceram ou diminuíram de tal forma que já não prestam mais a fortalecer o futebol; e eles sempre tiveram papel relevante nesse aspecto (lembrem-se Ronaldo Fenômeno surgiu no São Cristóvão jogando, e não em laboratórios de centro de treinamento para jovens robôs). Se buscarmos no passado, o Rio de Janeiro, uma escola fabulosa de futebol, se dava ao luxo de ter um torneio metropolitano e um estadual, e disso resta apenas a formalidade de taça Guanabara e taça Rio.

Portanto, caro leitor, segue a fórmula mágica para que a seleção brasileira volte a ser o time mais forte do mundo: Invertam a ordem! 9 meses de campeonatos regionais e 2 meses de “Libertadores Lusófona” ou, campeonato brasileiro. Ou, de alguma forma, o campeonato brasileiro poderia seguir o formato da atual Libertadores ou Champions League  e envolver os melhores times de cada estado na temporada. Só assim voltaremos a formar uma seleção com uma mescla irresistível de estilos e escolas que encantaram o mundo.

Enzo Zagoni

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