terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Mozzarella Chiocca

Caros leitores do Cinema Semanal, estreio hoje uma coluna mensal nesse blog e venho aqui, me apresentar. Como o leitor do blog quer mais é saber de cinema escolhi um filme que me dá a chance de falar de cinema e de mostrar ao leitor o que ele pode esperar de mim nesse espaço.
Mozzarella Stories é um filme daqueles bem italianos, eu, como neto e com sobrenome italianíssimo, aproveito o filme paesano para dar as caras por aqui.

Mais do que isso, o filme me ajuda a colocar para vocês a que geração eu pertenço; e isso, logo na abertura, o leitor que for da minha geração vai se sentir no auditório do extinto programa do Záccaro do anos 80, apesar do filme se passar nos anos 2000 (e a festa em 99). Para os mais novos não ficarem perdidos, sintonizem na RAI em algum programa como La Prova Del Cuoco ou Porta a Porta e vocês verão que aquela festa, que beira o caricato, não é exagero nenhum.

Na festa, Ciccio, um fazendeiro produtor de Mussarela de Búfala, retorna da prisão após “problemas com um concorrente” (ele o assassinou) para assumir de vez o posto de Rei da Mussarela, coordenando o sindicato dos produtores. Toda a comunidade está em festa, são tempos de prosperidade e aquela alegria italiana é bem retrada. Tudo indica que o filme é uma boa comédia italiana, mesmo com a presença dos mafiosos que, naturalmente, levam uma parcela dos lucros. Ciccio não vê mal nisso, afinal, os negócios vão bem e isso, oras, isso faz parte da Itália.

Naqueles tempos felizes carreiras são promissoras como a do cantor Ângelo Tatangelo, o “cobrador” com nome perigoso, Zingaro Napoletano, a juventude da bela Sofia, filha de Ciccio.
Mas, de repente, esse quadro muda, o mercado de mussarela vê seus preços caírem vertiginosamente com a concorrência de um produtor chinês.

Nesse momento, o cantor Ângelo já casado com Sofia, é um fracasso não só na carreira como no próprio casamento pois ele ama sua ex companheira de palco, Autília, o Zingaro, intimado a cobrar os devedores de Ciccio, não assusta mais ninguém, e os felizes produtores se veem num beco sem saída. Apesar disso, o filme continua parecendo uma comédia, esse clima só é quebrado, e isso gerou uma perplexidade na plateia do cinema, com a surra que Ciccio dá em um de seus colegas do sindicato quebrando totalmente o clima de comédia, que depois o filme tenta retomar, mas já sem a leveza de antes.

Por que estou contando o filme se o leitor que viu, já viu e o que não viu quer ver?
Por que esse é o tipo de história que gosto de analisar, nem que seja para apontar os defeitos do filme. Nisso me parece que o diretor acertou pois é a imagem que tenho da Itália nos dias de hoje, a alegria esbanjadora dos anos 80/90 deu lugar a uma depressão econômica que pode levar a Itália a um calote como a Grécia. Aquela comédia ingênua do começo do filme agora dá lugar a uma agressividade e uma comédia menos suave (como se nota na morte de Autília, um tanto pesada).

O antigo aliado que Ciccio surrou por esse desconfiar de sua capacidade de gerir a crise e ofender sua filha volta para assassina-lo e tomar seu posto. Mas Sofia, aliada com o braço direito de seu pai, Dudo faz uma aliança com os chineses e, como seu pai, acaba com seu rival a chicotadas.

O notável, para um praxeologista como eu, é o pouco rigor na lógica econômica do sucesso dos chineses e a quase risível explicação que se dá para a solução dos conflitos no filme. Fica de bom desse filme a ilustração de uma Itália outrora feliz (e gastona) e agora uma Itália caída e sem otimismo com a crise econômica. E melhor que isso é a italianíssima Luisa Ranieri interpretando Sofia. Serve de distração para um filme com pouco nexo, como é a Itália hoje.

Cristiano Chiocca, praxeologista, economista e fundador do Instituto Mises no Brasil. Cristiano toda a primeira quarta-feira do mês escreve sobre as relações humanas no cinema sob a dimensão transcendetal.

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